Você que pega congestionamentos “todo santo dia” Brasil afora talvez não saiba as principais razões de um dos cancros desse País, causador de atrasos e perdas de milhões de reais. Pois bem, então vamos ao que acontece. E verá que aquele mar de carros tido como “excesso de veículos” vem da falta de governo.
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Uma das razões mais óbvias ligadas aos congestionamentos é a ausência de transporte público, na maioria das vezes precário nos mais variados aspectos, tanto no que se refere à cobertura de todas as áreas onde deveria estar disponível quanto à pontualidade, conforto, entre outros fatores, como rapidez e confiabilidade.
Também existe a questão da falta de conservação das vias públicas. Em São Paulo, várias pontes que ficaram sem manutenção por décadas começaram a apresentar problemas tão graves a ponto de terem que ser interditadas. Em uma cidade com 8,6 milhões de veículos, que está no limite do suportável, qualquer grão de areia que se mova fora do normal causa um transtorno enorme.
Além disso, mais recentemente, basta prestar um pouco mais de atenção nas placas dos carros que circulam não apenas na capital paulista, mas por outras cidades do Brasil, para ver uma porção de veículos de Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR) Por que será? Simples, boa parte deles são de locadoras, uma vez que, nessas duas cidades, essa categoria de carro paga apenas 1% de IPVA, ante 4% em São Paulo,ou seja, quatro vezes menos.
E o que isso tem a ver com o trânsito? Primeiro porque tem bastante motorista de aplicativo nas ruas dirigindo carro de locadoras. Com o desemprego vergonhoso que assola o Brasil (mais de 13 milhões de pessoas) ultimamente, sair por aí para ganhar algum que ajude nas despesas é algo cada vez mais frequente. Então, eis a primeira explicação.
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Depois, como deve ficar comprovado no balanço de 2019, as vendas diretas para locadoras têm tudo para bater recorde no Brasil. No primeiro semestre do ano, chegaram a representar quase 50% do total. Com os preços dos carros nas alturas há quem opte apenas por alugar e não comprar um carro, utilizando as novas opções de locação, como a de compartilhamento, e que se usa o veículo por apenas algumas horas.
E as outras modalidades de transporte?
O trânsito parado no Brasil também vem da falta do governo por terem deixando de lado as ferrovias e hidrovias, entupindo de caminhões de médio e grande portes nas mal tratadas ruas e avenidas, inclusive em perímetro urbano. Claro que, não raro, esses utilitários acabam causando acidentes, emperrando debaixo de pontes e contribuindo com a poluição urbana.
Outro ponto que atrapalha o trânsito é a pouca fiscalização e estutura inadequada para remoção de veículos quebrados e acidentados, ou de prover boa sinalização, o que inclui semáforos inteligentes e que não parem de funcionar com frequência a cada garoa que aparecer. Além disso, estão incluídas nessa conta as placas indicativas, que quando não estão apagadas, amassadas (e até alvejadas a tiros), ficam encobertas pelo mato, ou pela vegetação que deveria ter sido aparada em tempos em tempos.
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Tem ainda a delicada questão da renovação de frota, medida considerada impopular e, por isso, nunca resolvida pelo poder público. Enquanto isso, dezenas, ou centenas de milhares de veículos em péssimo estado continuarão rodando, poluindo e quebrando no meio do caminho, causando enormes congestionamentos e oferecendo risco de acidentes.
A densidade populacional, causada pela falta de emprego e infra-estrutura em diversas cidades do Brasil também acaba contribuindo com os congestionamentos, uma vez que a grande maioria dos veículos do País fica nas principais capitais e não distribuídos de maneira mais equilibrada.
Por que não incluir também a falta de cidadania e educação entre as causas dos congestionamentos ligadas à ausência do Estado? Quando alguém tenta furar uma fila de carros que vão entrar em uma via secundária e acaba atrapalhando o fluxo de veículos na principal, mostra que não aprendeu direito na escola que o que vale é o coletivo, respeitado o tempo e a paciência dos outros.
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E pensar que, observando todos aqueles carros parados no trânsito, boa parte deles teve entre 30% e 50% do seu preço atrelado a impostos e taxas, dependendo do modelo, gerando uma montanha de dinheiro para os cofres públicos. Mais ainda: no caso dos movidos a gasolina, a carga de tributos no combustível chega a quase metade do preço do valor nas bombas. Salve-se quem puder. Talvez um super-herói imaginário venha resolver o problema do trânsito no Brasil, não é mesmo?